reflexão

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo,e esquecer os nossos caminhos,que nos levam sempre aos mesmos lugares.É tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la,teremos ficado,para sempre,à margem de nós mesmos."Fernando Pessoa

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Estou com essa música na cabeça essa semana ...

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia
Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade:
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade:
Senhor, piedade, Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
...

Strip Tease

O papel não era dela,

mas fora convidada quando souberam que a Giselle havia adoecido.

Assim, não precisariam ser interrompidos todos os ensaios.

Não foi muito dificil, já que ela, costumava ser a Giselle.

Há muito tempo não fazia isso,

na verdade, já estava com medo de ter esquecido como é sentir-se parte de tanta magia.

Medo bobo, (como todos os medos)

não foram necessárias mais do que 2 notas para começar voar,

colocar-se viva na personagem;

despir-se completamente de si e entrega-se à energia do momento de criação, adaptação.

Essa é a mágia dos ensaios:

ver o nada, tornar-se concreto;

acordes virarem movimentos;

roupas aos poucos, fazem-se fantasias !

Sim !

Ela lembrou porque sempre preferiu os ensaios aos aplausos , holofotes e sorrisos de compreensão do público de um dia de estréia.

Partie coeur

Os desenhos ( pedido do Pe. Mauricio)foram feitos em transparencia, com caneta para retroprojetor. Os desenhos serão reproduzidos de maneira comunitária ,em tapetes de sal, no dia 3 de junho

os temas foram: Humildade e Hóstia

Repouso

A caminhada é longa e árdua.

Mas quando canso: não posso parar.

O mar da vida, a todo o tempo,

tenta afogar.

O Pai me pega em seus braços,

sigo no conforto e no alento que só Ele pode dar à minh´alma.

...

Os pés calejados já não sangram mais,

o amor do Pai, os fizera sarar.

Conserta, agora, minhas asas ( que já batem como no tempo que fazia ventar) para na hora certa,

lá do alto, do seu colo,

Ele me soltar.

Poderei então,

com meus próprios pés,

continuar a caminhar...

Gratidão

Dificil achar no tempo em que vivemos,
no país aonde vivemos,
alguém com coração tão aberto e palavras tão doces à boca.
Eis aqui minha mais sincera e profunda gratidão à Profª. e Mestre em educação artística, Ana Maria.
Ter meus trabalhos sendo homenageados por ti, e bradados a meio mundo,
não tem preço.
És aquela que incentiva a faísca, virar labareda;
Reconheces nos pontilhados, verdadeira arte;
Vês poesia em palavras soltas.
Meu carinho por ti sempre foi e será imensurável.

Anagrama

(Imagem da obra: poéticas visuais)

Acordou diferente,
Saudosa.
Colocou um casaco e saiu na garoa, a vagar.
Sem guarda chuva,
sem relógio,
só carregava no peito a vontade de andar.
Procurava por entre as ruelas do Baixo Gávea,
Aquele velho bar.
Lana não sabia onde estava,
Mas sabia onde queria chegar !
Deixou- se guiar pelos ventos,
E em pouco tempo,
Estava aonde queria estar.
Parou à porta ,
E João, seu grande amigo e garçom,
Imediatamente a reconheceu,
Foi à ela correndo e se abraçaram.
Em segundos, relembrara tudo o que viveu naquele bar.
“Como pode? Faz tanto tempo... as coisas continuam no mesmo lugar ! ”
Ele respondeu:
Estavam te esperando, hoje quando acordei sabia que você iria voltar,
Guardei para ti a melhor mesa, a sua de sempre, cativa;
Nela, nesses anos todos, ninguém ousou sentar !
O pessoal ainda se reúne aqui, sua cadeira sempre fica à mesa, te esperando chegar.
Abraçaram-se de novo.
“conheço esse som. De onde vem? Lá de cima ? tem alguém ensaiando?”
Ele sabia que ela reconheceria, mesmo assim respondeu:
Tem sim.Um grupo está lá há horas, quer subir e espiar ?
“melhor não! Não cabem duas Julietas no mesmo lugar. ”
Silenciaram-se.
Deixaram seus olhos conversar.
Lana puxou a cadeira,
Sentou-se,
Tirou seu caderno da bolsa e começou a brincar.
Ele saiu em direção à cozinha.
A conhecia como poucos, e sabia que queria ficar sozinha.
Sem tirar os olhos, nem o lápis do papel, ela gritou (sorrindo):
“Sem colarinho, João ! ”
mas o bar ainda estava vazio,
e na mesma altura respondeu:
Nem precisava avisar !

Eterna

Minha mãe costuma dizer, que só vou saber o que é amor incondicional,
no dia em que tornar-me mãe.
Se um dia, eu for metade da mãe que ela é,
então eu já saberei como é.

Esse amor de quem daria a própria vida pela felicidade de um filho.
Amor que a faz ter forças pra lutar como uma leoa.
Amor que a faz ser fortaleza,
ainda que seja ela quem precise de colo!
Amor que a faz segurar as lágrimas, enquanto diz que este não é o meu lugar...
Sim ! este é o meu lugar !

Há tanta vida.
Deus poderia ter-me feito uma borboleta,uma rosa, um passarinho ou outra das milhares de espécies existentes;
em qualquer outro lugar.
Mas num raio de 149.597.870,691 km,
Ele me colocou para nascer justamente da TUA barriga.
E não haveria no mundo,
lugar melhor .
Nada me deixaria mais feliz, do que ser sua filha...

LUMIÈRE

Luiza, após muito relutar, resolveu abrir seu baú e pegar seu empoeirado e já amarelado caderno de desenhos.
Afinal, pensar na possibilidade de não abri-lo, já é pensar em abrir.
Ela sabia e temia o que estaria por vir, por isso hesitara.
Seus olhos averbaram cada momento traçado, cada cor, cada cinza.
E como num passe de mágica, cada página folheada ganhou vida !
Palhaços choravam,
Flores falavam,
Anjos colocaram-se a orar,
Ciganas dançavam, enquanto soldados e malandros tocavam seus pandeiros;
Estrelas reluziam,
Se abraçaram, Pierrot e Colombina.
Até Lua sentou para ouvir os versos do poeta.
Estavam ali,
todos vivos,
Iluminados,
pela luz dos olhos de Luiza.

Bosque

Mergulhou dentro de si,
um lugar aonde todos os dias são de Sol ,
e todas as noites são de chuva.
Lá o relógio não marca a hora,
E todos sabem sua vez.

Lá,
Árvores sussurram entre si.
A brisa morna, acaricia as flores despetaladas pela forte ventania.
Margarida e rosa trocam confidências,
angústias,
dúvidas,

partilham sentimentos humanos,

ainda que sejam flores.