- Que tanto olhas neste espelho?
(Ela gargalhou de maneira indecifrável. Desespero?
seu olhar estava ainda mais melancólico que o de costume.)
- Estou olhando essa carcaça velha, meu anjo. Só em pensar que já fui linda... sabe, quando eu era mocinha, meus olhos eram tão grandes.Hoje, mal consigo vê-los. Papai costumava dizer que eu falava com os olhos. Assim como os seus ! eles estão conversando comigo agora!
aaaah... papai...
Já te contei como conheci teu avô?
- Não ...
- A minha casa era caminho do trabalho dele e todos os dias ele passava no mesmo horário. Eu sabia disso, todos os dias ia pro portão esperar ele passar. Não falava nada, só olhava. E ele sempre sorria.
(Ficou em silêncio e olhou para a aliança que ainda estava em seu dedo, mesmo após mais de 20 anos de viuvês.)
- Hei Hei, não fique assim. A senhora ainda é tão linda, mais do que imagina !
A vida tornou teus cabelos alvos e volumosos, para que combinassem com o refletido céu azul nos seus olhos verdes. Ah, e suas rugas ... elas escondem teu rosto, mas mostram que és vivida e enfeitam a tua alma.
(Colocou a neta em seu colo robusto e macio)
- Já notou como essa casa é movimenta? Um entra e sai danado de gente. Ninguém vem falar comigo... só você. Deve ser porque sou velha. Você herdou essa douçura toda de tua mãe.
(Levantou-se da cadeira.)
-Vai lá minha princesa, que preciso deitar um pouco.
- Mais tarde então eu volto,
Rainha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário